Tuesday, January 25, 2011

Caso 90

A manhã acordou gélida! Num auditório estranho um bando de crianças loucas e alguns adultos de alto coturno, suspiravam de ansiedade, enquanto os minutos corriam em direção do abismo: temiam o que iriam ler no teste, com a certeza certa que o mesmo seria profundamente complicado e que muitos dos presentes teriam de regressar em Fevereiro. Nos olhares podiam ler-se os nomes feios que no silêncio gritavam ao pobre professor!
Lyonce e Viiktórya são irmãs gémeas e curiosamente até nasceram no mesmo dia, faz exatamente dezasseis anos, pelo que, se me permitem, começo por desejar a ambas os parabéns! Se é que elas têm algo a festejar, nesta data que não se evoca nem se celebra! Porque ambas estão grávidas! Lyonce está grávida do padrasto e Viiktórya de um trolha, um rapaz de 25 anos, tão bonito, que este que vos escreve, cora só de pensar!
A mais bonita das duas irmãs, comprou com o dinheiro que roubou da caixa da Igreja um carro de bebé, que lhe custou 1000 Euros! A outra comprou um maço de cigarros!
Mas, o pior pior pior, mas mesmo do pior ou, se me permite, mesmo piorio, é que Viiktórya está agarrada à cocaína e assalta velhotes para conseguir dinheiro para o vício! Já a sua irmã, passa os dias fechada no quarto a bordar o enxoval das crianças!
E termino, com uma dúvida, que me consome e me atormenta, que não me deixa dormir há treze dias e duas noites: que será da criança, filha da Viiktórya?
Quid Juris

Thursday, January 13, 2011

Caso 89

Foi em Setembro que se conheceram! Ela trazia nos olhos a luz de Maio, nas mãos o calor de Agosto e um sorriso tão grande que não cabia no tempo.
Ele disse-lhe: “ Ouve, vamos ver o mar...”
Foram o 30 de Fevereiro de um ano por inventar, falam coisas tão loucas e acabaram em silêncio, por unir as suas bocas e ele aprendeu a amar. Ainda o relógio marcava dezassete anos e já Açucena vivia maritalmente com Margarida, há dois anos e três dias. até que se Açucena se fartou da sua amada, terminou a relação e quis ficar a morar na casa, que há 3 anos Margarida tinha arrendado por óptimo preço!
No dia que fez 18 anos Açucena casou com Enivaldo, uma espécie de trolha do mar, um madeirense charmoso com coração de açoriano e uns olhos azuis da cor do mar, quando o mar é azul!
Ele amou-a como ninguém tinha amado antes. Quis dar-lhe o sol, quis oferecer-lhe as estrelas, mas como lhe faltou o talento ofereceu-lhe um iphone 4 e uma mota, prendas que ela adorou e que ele se esqueceu de pagar, algo que ela apenas descobriu, depois de ele fugir com Margarida, no carro que ele tinha oferecido a esta e que não pagou!
Ainda por cima, Enivaldo era não apenas marido, como tio da nossa Açucena, que, pasme-se, recusou-se a dar-lhe o divórcio! Quando ela falou no divórcio, ele agarrou numa barbie e deu-lhe quatro marretadas, tendo Açucena ido para o Hospital com um corte no rosto.
Açucena ainda se apaixonou pelo seu irmão, mas a relação durou pouco, porque ela não confiava nos homens da sua família.
Foi em Novembro que ela partiu, levou nos olhos as chuvas de Março e nas mãos o mês frio de Janeiro. Lembro-me que ele lhe disse que o seu corpo tremia, mas ele, que queria ser forte, respondeu que tinha frio, falou-lhe do vento norte. Não lhe disse adeus, quem sabe talvez um dia...
Como ele tremia meu Deus! Amou como nunca amou!
Como não tinha para onde ir foi para as Caraíbas, onde conheceu uma aluna de Serviço Social, por quem se apaixonou e com quem casou, numa tarde de Verão, junto ao mar azul, dois dias antes de regressarem a Portugal, porque a aluna de SS tinha teste de Direito. E foram felizes, até que a aluna de SS quis vender o seu carro, contra a vontade de Açucena que o usava para o seu trabalho. Aliás, a aluna quis também vender a casa onde moravam, prenda do seu avô.
Sim eu sei que tudo são recordações, sim eu sei é triste viver de ilusões, mas este foi o mais lindo caso prático que um dia me aconteceu!

Quid Juris

Caso 88

Eles eram duas crianças a viver esperanças, a saber sorrir. Ela tem cabelos louros, ele tem tesouros para repartir. Numa outra brincadeira passam mesmo à beira, sempre sem falar.Uns olhares envergonhados e são namorados sem ninguém pensar, com medo do pai dela, que lhe prometeu uma sova, se ela namorasse antes dos dezoito anos.
Foram juntos outro dia, como por magia, no autocarro, em pé. Ele lá lhe disse, a medo: "O meu nome é Pedro e o teu qual é?" Ela corou um pouquinho e respondeu baixinho: "Sou a Cinderela, e se queres namorar comigo, tens de oferecer-me um iphone 4 comprado na Worten de Grandola”.
Quando a noite o envolveu ele adormeceu e sonhou com ela...Então, Bate, bate coração, louco, louco de ilusão, que a idade assim não tem valor e ele é menor mas trabalha desde os 16, mas como gasta o dinheiro todo a viajar entre Lagos e Évora, pediu emprestada à avó e ofereceu-lhe a prenda.
Crescer, vai dar tempo p'ra aprender, vai dar jeito p'ra viver, o seu primeiro amor. O seu, do Pedro, que era filho de pai invisual, profundamente rico e de uma mãe leviada, que dormia com outros homens, até mesmo um vizinho barrigudo de barbas grandes que em Dezembro vestia-se sempre de vermelho, presumo por ser do Benfica!
Cinderela das histórias, a avivar memórias, a deixar mistério, já o fez andar na lua, no meio da rua e a chover a sério, embora, quando isso aconteceu, ele tinha bebido demasiado e, perdidamente embriagado, comprou um guarda-chuva amarelo.
Ela, quando lá o viu, encharcado e frio, quase o abraçou, com a cara assim molhada, ninguém deu por nada, ele até chorou...
E agora, nos recreios, dão os seus passeios, fazem muitos planos, e dividem a merenda, tal como uma prenda que se dá nos anos, porque, como se sabe, é tradição dar uma prenda de aniversário.
E, num desses bons momentos, houve sentimentos a falar por si, ele pegou na mão dela: "Sabes Cinderela, eu gosto de ti..."