O detective privado Gongas estava inclinado sobre a sua poltrona azul-marinho, tendo os seus sapatos de camurça estragados, sobre a velha secretária de pinho. Em cima da mesa, três velhas esferográficas oferecidas por outras tantas oficinas de reparação automóvel, mordidas na ponta; ao lado, um velho cinzeiro, repleto de pontas de cigarros mal apagados, transbordando de cinza; e um computador, que mais não servia do que para pesquisar na net sites de gosto duvidoso.
Lá fora ouviu vozes; recompôs-se na cadeira, agarrou um velho Diário da Republica que abriu sobre a mesa, onde apressadamente sublinhou uma lei elaborada pelo governo sobre a organização da defesa nacional, e, agarrou o telefone, iniciando uma conversa fictícia, na ânsia de não demonstrar a completa ausência de clientes. Ao ouvir baterem na sua velha porta, balbuciou um “pode entrar” fingindo-se absorto pela conversa imaginária; com um gesto largo com o seu braço esquerdo, indicou à sua visitante uma cadeira suja e gasta.
A jovem sentou-se; lábios grossos, cabelo pelos ombros, castanhos-escuros, olhos da mesma cor, que irradiavam um brilho que a tristeza não conseguia esconder. Vinha vestida com uma blusa de malha, não excessivamente decotada e uma saia travada, pelo joelho. Discretamente os seus olhos formosos, percorreram o espaço frio onde o nosso detective atendia os seus poucos clientes. Uma mesa gasta, três estantes desarrumadas, duas delas apenas com algumas revistas, um vaso com uma planta artificial e um cabide; ao fundo uma sofá, vermelho, manchado, decrépito.
Terminada a conversa fantasma Gongas pediu desculpa por a sua funcionária estar ausente, mas tinha saído numa missão (a desculpa oficial, desde que aquela se havia despedido, há três anos, cansada de esperar por longos meses de ordenados em atraso); perguntou-lhe o nome e a que a trazia ao escritório de um dos melhores detectives de Lisboa.
Matilde – era este o seu nome – por entre lágrimas sofridas contou a sua história; aos dezasseis anos engravidou de Ambrósio, tendo sido obrigada a casar por Carlitos, o homem que a criou como um pai, um velho agricultor do interior alentejano que não aceitava sustentar uma filha, menor, mãe solteira.
Os dois primeiros anos de casamento, com excepção das agressões psicológicas do marido nas noites em que bebia demasiado, foram quase como um conto de fadas, que a sua mãe lhe lia todas as noites, pouco antes do acidente de viação que tornou Matilde órfã de pai e mãe.
O seu triste fado começou quando Eduardo trocou a monotonia da vida conjugal pelas noites na boémia nos bares e discotecas de Lisboa. Em poucos meses a conta bancária do casal sofreu perdas irreparáveis, fruto dos gastos de Ambrósio em noites, copos, jogo e outros vícios que Matilde não sabia, mas desconfiava…
Em concreto o que preocupava Matilde nesta manha invernal era o receio do marido alienar um monte alentejano, para custear uma planeada viagem ao Brasil, com o intuito de conhecer o Carnaval do Rio.
Consternado, o Detective Gongas inquiriu-a sobre o motivo porque não Matilde não abandonava o lar conjugal; era jovem, bela, alguns estudos, pelo que não teria extremas dificuldades em encontrar um emprego, para depois refazer a sua vida. Com as lágrimas a percorrem a sua cara morena, explicou que ainda amava o marido; e mesmo que já não o amasse, não tinha para onde ir, uma vez que descobrira recentemente que a casa que recebera de herança pelos seus pais, havia sido doada por Carlitos a Júlia, uma das suas mais íntimas amigas.
Este belo duplex situado em Cascais, com uma deslumbrante vista para a marina cantada pelos Delfins, tem sido, nos últimos meses, fruto de várias mudanças de dono; com efeito, Deolindo persuadiu Júlia, com a ajuda de um revolver, a vender-lhe esta casa, por um preço muito inferior ao de mercado; mas este acto não fez a felicidade de Deolindo, uma vez que, Gustavo a adquiriu por este mesmo valor, após atemoriza-lo com a advertência de que a recusa em vender teria como resultado a morte da D. Deolinda, a mãe amada de Deolindo.
Atónito com todas estas revelações, o Detective Gongas, ainda incrédulo, não sabe o que fazer para responder aos problemas de Matilde; não querendo demonstrar a sua ignorância, envia-lhe um e-mail, pedindo lhe ajuda. O que lhe responderia?
Lá fora ouviu vozes; recompôs-se na cadeira, agarrou um velho Diário da Republica que abriu sobre a mesa, onde apressadamente sublinhou uma lei elaborada pelo governo sobre a organização da defesa nacional, e, agarrou o telefone, iniciando uma conversa fictícia, na ânsia de não demonstrar a completa ausência de clientes. Ao ouvir baterem na sua velha porta, balbuciou um “pode entrar” fingindo-se absorto pela conversa imaginária; com um gesto largo com o seu braço esquerdo, indicou à sua visitante uma cadeira suja e gasta.
A jovem sentou-se; lábios grossos, cabelo pelos ombros, castanhos-escuros, olhos da mesma cor, que irradiavam um brilho que a tristeza não conseguia esconder. Vinha vestida com uma blusa de malha, não excessivamente decotada e uma saia travada, pelo joelho. Discretamente os seus olhos formosos, percorreram o espaço frio onde o nosso detective atendia os seus poucos clientes. Uma mesa gasta, três estantes desarrumadas, duas delas apenas com algumas revistas, um vaso com uma planta artificial e um cabide; ao fundo uma sofá, vermelho, manchado, decrépito.
Terminada a conversa fantasma Gongas pediu desculpa por a sua funcionária estar ausente, mas tinha saído numa missão (a desculpa oficial, desde que aquela se havia despedido, há três anos, cansada de esperar por longos meses de ordenados em atraso); perguntou-lhe o nome e a que a trazia ao escritório de um dos melhores detectives de Lisboa.
Matilde – era este o seu nome – por entre lágrimas sofridas contou a sua história; aos dezasseis anos engravidou de Ambrósio, tendo sido obrigada a casar por Carlitos, o homem que a criou como um pai, um velho agricultor do interior alentejano que não aceitava sustentar uma filha, menor, mãe solteira.
Os dois primeiros anos de casamento, com excepção das agressões psicológicas do marido nas noites em que bebia demasiado, foram quase como um conto de fadas, que a sua mãe lhe lia todas as noites, pouco antes do acidente de viação que tornou Matilde órfã de pai e mãe.
O seu triste fado começou quando Eduardo trocou a monotonia da vida conjugal pelas noites na boémia nos bares e discotecas de Lisboa. Em poucos meses a conta bancária do casal sofreu perdas irreparáveis, fruto dos gastos de Ambrósio em noites, copos, jogo e outros vícios que Matilde não sabia, mas desconfiava…
Em concreto o que preocupava Matilde nesta manha invernal era o receio do marido alienar um monte alentejano, para custear uma planeada viagem ao Brasil, com o intuito de conhecer o Carnaval do Rio.
Consternado, o Detective Gongas inquiriu-a sobre o motivo porque não Matilde não abandonava o lar conjugal; era jovem, bela, alguns estudos, pelo que não teria extremas dificuldades em encontrar um emprego, para depois refazer a sua vida. Com as lágrimas a percorrem a sua cara morena, explicou que ainda amava o marido; e mesmo que já não o amasse, não tinha para onde ir, uma vez que descobrira recentemente que a casa que recebera de herança pelos seus pais, havia sido doada por Carlitos a Júlia, uma das suas mais íntimas amigas.
Este belo duplex situado em Cascais, com uma deslumbrante vista para a marina cantada pelos Delfins, tem sido, nos últimos meses, fruto de várias mudanças de dono; com efeito, Deolindo persuadiu Júlia, com a ajuda de um revolver, a vender-lhe esta casa, por um preço muito inferior ao de mercado; mas este acto não fez a felicidade de Deolindo, uma vez que, Gustavo a adquiriu por este mesmo valor, após atemoriza-lo com a advertência de que a recusa em vender teria como resultado a morte da D. Deolinda, a mãe amada de Deolindo.
Atónito com todas estas revelações, o Detective Gongas, ainda incrédulo, não sabe o que fazer para responder aos problemas de Matilde; não querendo demonstrar a sua ignorância, envia-lhe um e-mail, pedindo lhe ajuda. O que lhe responderia?
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