Tuesday, May 16, 2006

Caso 5

As primeiras chuvas denunciavam o final do Verão. Ao longe as crianças corriam em perseguição de uma bola que teimava em fugir-lhes; no parque infantil, ordenadamente aos gritos, algumas mulheres comentavam as novelas com os olhos postos nos seus filhos, que corriam entre baloiços, cavalos de madeira, escorregas e outros instrumentos que faziam as delícias dos petizes; ali ao lado, um vendedor ambulante vendia doces e gelados às crianças, que os adquiriam com voracidade.
Escondido nuns arbustos, o Detective Gongas, fotografava um casal de namorados que, na suposição errónea de estarem devidamente protegidos, se haviam deixado corromper pelas hormonas. Carenciado de dinheiro, o nosso detective nos seus tempos livres dedicava-se a fotografar casais em situações invulgares, para posteriormente vender essas fotos para serem divulgadas na Internet.
Para aumentar os rendimentos desta actividade constituiu, por documento particular, uma Associação, com o intuito de proteger os direitos das pessoas que se dedicam a esta nobre actividade.
Mas regressemos a manha outonal em que ocorreu a história que aqui vos relato. Sentado perto de si, estava uma jovem a confidenciar a uma amiga o seu triste fado. Gongas, encantado pelo generoso decote por esta ostentado, sentiu-se atraído a escutar a conversa. A jovem, Célia de seu nome, contava como havia sido persuadida a adquirir um quadro caríssimo; pouco conhecedora de arte, entrou numa galeria e confundiu um quadro de um qualquer pintor desconhecido, por um autêntico Picasso; dirigindo-se ao vendedor, este não a elucidou do engano, conseguindo por este meio uma magnífica comissão, ao vender o quadro por um valor muitíssimo superior.
Mas a triste sorte de Célia não ficou por aqui; numa deslocação ao massagista, conheceu o homem com que sempre sonhara: alto, moreno, olhos verdes, musculado, dentes brancos de onde irradiava um sorriso cativante; a meio da sessão de massagem, já o seu coração tinha dono. Não obstante a sua timidez, a tarde não terminou sem convidar o massagista Pedro para um jantar, no mais romântico restaurante da cidade.
Mas o que parecia uma noite encantada, veio a revelar-se fatídica; ao ingerir o segundo copo de vinho tinto alentejano, Pedro começou a ter comportamentos estranhos, pouco consentâneos com o local onde se encontrava. Pela sua má conduta – praguejar com os empregados, discutir com os clientes das outras mesas, insultando algumas pessoas – foi, com alguma violência, “convidado” a abandonar o restaurante. Já no seu exterior, passou um cheque de 500 € e adquiriu o automóvel do empregado de mesa.
Não obstante a oposição de Célia, Pedro dirigiu-se para um bar da cidade, onde continuou a beber, ficando a cada hora que passa num estado de maior exaltação; com uns amigos que encontrou no bar, decidiram ir terminar a noite a uma discoteca Algarvia; com receio, Célia, optou por disfarçadamente abandonar o bar, preferindo um táxi a entrar no carro de Pedro.
Por se ter deixado dormir, só no dia seguinte a nossa heroína teve conhecimento do acidente de viação sofrido por Pedro; desse acidente, resultou não apenas uma perna partida, como lesões cerebrais permanentes.
Em consequência da patologia de Pedro, é a sua mãe que trata de todas os seus problemas, não apenas as necessidades físicas, mas também todos os negócios jurídicos relativos ao seu património. O facto de passar junto do filho quase a totalidade do seu tempo, colocou em risco a sua relação sentimental com Juvenal, marido ciumento e possessivo que, para conquistar a afeição de Maria (mãe de Pedro) havia assassinado o seu marido.
Para compensar Juvenal pela sua ausência, Maria, retirou algum dinheiro da conta de Pedro e ofereceu-lhe um BMW descapotável. Mas, nem com esta generosa oferta, Maria conseguiu recuperar a estima do seu amado marido; encorajada pela vizinha Madalena, recorreu aos serviços do detective Gongas para averiguar se é a única mulher a viajar no BMW de Juvenal…

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