Tuesday, May 16, 2006

Caso 6

Quando o detective Gongas abriu a janela do seu paupérrimo apartamento já o sol iniciava o declive que anuncia o fim do dia! A noite havia sido longa e desgastante na perseguição de um marido rico que demasiadas vezes se esquecia do caminho de sua casa, terminando a noite fora do leito conjugal.
O dia dos factos que aqui vos recordo era um dia importante para o nosso decadente detective; havia sido publicado no Diário da Republica o Decreto-Lei n.º 97/2003 de 1 de Fevereiro que permitia aos detectives privados a posse de arma de fogo. Por este facto Gongas tencionava conseguir a posse de arma, dia 3 de manhã, de molde a iniciar uma nova actividade profissional nessa mesma tarde. Esta actividade consistia na cobrança de dívidas e o plano traçado era simples: de arma em punho, dirigia-se a casa dos devedores e exigia-lhes o dinheiro em dívida, acrescido de 20%.
Para que este relato seja franco, urge sublinhar que a ideia na era de Gongas, mas de seu primo Tito, um reformado agente da polícia; ainda na semana passada havia conseguido ficar proprietário do apartamento de um velha senhora que não havia conseguido pagar ao seu médico o valor de uma operação, sob a ameaça de matar a sua nora, logo que esta regressasse de uma viagem ao estrangeiro.
Mas nem só pelo que fica escrito este era um dia especial; Gongas casou. Pelas 10 da manhã, no Registo Predial de Oeiras, Gonçalo Gaspar (Gongas para os amigos) contraiu matrimónio com Patrícia Alexandra Ferreira Borges Coutinho de Oliveira e Costa, nascida a 31 de Dezembro de 1986, 98 quilogramas de peso, 1.55 de altura e, por mera casualidade, herdeira de uma enorme fortuna.
Gongas conheceu a sua esposa numa festa em Cascais, na qual este se introduzira sem ser convidado; ao apresentar-se, afirmou ser um empresário com grandes recursos financeiros, e que, em breve, iria fazer o melhor negócio da sua vida. Apenas não lhe disse, que o negócio que ele tinha em mente, era o casamento com ela.
O pai de Paticha (como a esposa de Gongas é conhecida no seio das revistas cor-de-rosa) enriqueceu com a importação ilegal de álcool, bem como outros negócios ilícitos; a sua esposa, era uma das suas principais clientes, sendo que ao vício do álcool acumulava a incontrolável necessidade de jogar no casino, onde invariavelmente perdia.
Quando Gongas comunicou ao seu pai que tinha casado, deu-lhe a única alegria de uma vida de sofrimento e preocupações; nesse mesmo momento, dirigiu-se ao mais caro restaurante de Lisboa, pediu a mais cara refeição, bebeu o mais caro dos vinhos e digestivos; de seguida, dirigiu-se a um stand de automóveis e adquiriu o mais caro dos veículos expostos, não obstante não ter nem dinheiro, nem carta de condução.

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